quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Botando o bloco na rua !!!


BOTANDO O BLOCO NA RUA
- Ô abram alas que eu quero passar...
Linhares de Araújo

Foi no Carnaval de mil novecentos e cinqüenta, em Caxias.
Como em anos anteriores, o Sr. Miguel Fala Fina ia botar na rua o Bloco das Moças, que os despeitados taxavam de “Das Imaculadas”. Era já uma tradição na cidade.
Logo no primeiro ensaio, seu Miguel dispensou, por “semodagem”, a afim Maria Martins que nem bem moça era ainda. Nutrita, bontinha e bem apanhada de conteúdo físico, porém “falada” como ela só! Fizemos de tudo e nada. Era imposição da tradicional família caxiense. Como uma norma pétrea, era irremovível. Nem o Sr. Bispo mexeria um dedo...
Quando da formação das alas do Bloco, Maria ainda tentou na das Baianas; mas não por falta da experiência das idosas era por nome sujo mesmo no burgo castiço e besta.
E Maria desistiu? Nem “seu  Sousa...” Com uma colega, à deriva também na mesma canoa, se encheram de coragem e, como em via-sacra, saíram a bater de porta em porta das Boates, rogando serem aceitas no Bloco delas: Bagdá, Casa Amarela, Calçada Alta, Duquesa e Madrid, onde foram aceitas e logo mandadas para os ensaios. Bondade de dona Diraci que via as coisas muito à frente...
Pelo seu ar jovem, boniteza, graça e desenvoltura, Maria foi até cogitada em ser a Porta-Bandeira do Bloco AS CIGANAS DO AMOR, por deboche, chamado AS VIOLADAS e, caso se comportasse direito, ela seria a Rainha do Carnaval daquele ano.
O Carnaval, enfim... Enquanto o Bloco das IMACULADAS se exibia nos exornados Corsos, de rodouro, orquestra e fantasias de alto luxo importados – sabe-lá de onde? As VIOLADAS, dispensadas as ofertas dos carros abertos, só de colombina, fantasias simples bem compostas, desfilavam no chão, no paralelepípedo, sob o som inebriado dos velhos carnavais executados por um conjunto da terra – da Tininha, Sanfoneira de truz. A Comissão de Frente guiada por um jovem jeitoso do Pé-da-Ladeira, o Valderez Silva; a Bateria da Rua da Mangueira dirigida pelo Zé Pretinho, goleiro da Palmeira, time campeão do ano passado; a ala das Baianas orientadas pela veterana Maria Pouquinho, e fechando o desfile o unido corpo de todas as Madames dos Cabarés de Caxias. Foram aplaudidas de pé ao passarem na Praça Gonçalves Dias, frente ao Palanque das Autoridades e da Comissão Julgadora. “Foi apoteótico o Carnaval dessas moças”, de boca cheia falou o Pe. Delfino, de passagem pela praça, indo para a Igreja da Matriz.
Quarta-feira de Cinzas, ao voltar da Missa, dita pelo mesmo Pe. Delfino, com cinzas na testa e confetes perdidos nos cabelos, recendendo colombina, Maria Martins foi apanhada e levada para a praça Gonçalves Dias e coroada Rainha do Carnaval de 1950. E, “meninos eu vi”: Maria se riu e chorou, depois corou e tornou a se rir, qual a virgem do Poeta da Raça. Delirante, de arrupiar...
Na dispersão, dançando juntas e misturadas, moças de família, putas, com elas o povão eufórico, doidão e aos gritos: CAXIAS É ISTO!

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